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domingo, 25 de novembro de 2007

A estrutura das cores

Tudo o que está a nossa volta é visto e percebido por nós, seres humanos, com cores. É o colorido que embeleza e alegra a nossa vida. Com exceção de um pequeno grupo - os daltônicos, que captam algumas cores a menos - nós sabemos da existência de uma infinidade de cores que serão tanto ou mais diversificadas quantas forem as misturas e combinações que delas fizermos. Há uma pesquisa feita com 236 pessoas da Ásia, África e Europa sobre cores, onde se constatou que as mulheres possuíam mais capacidade de percepção das cores do que os homens. Isso devido a opsinas presentes no cromossomo X, pigmentos responsáveis pela absorção das cores. Segundo a pesquisa, elas teriam dois cromossomos X, ao passo que eles teriam um só. A estrutura da cor é dividida em física e psicológica. A estrutura física se subdivide em matiz, que é a que difere uma cor da outra; luminosidade, componente que provoca alteração nas cores entre claro e escuro; e saturação, que produz várias nuances e define se a cor é natural ou pigmentada artificialmente. A estrutura psicológica refere-se à sensação inconsciente que a cor traz para o ser humano. De acordo com a experiência de vida pessoal de cada um, algumas cores sugerem calma, tranqüilidade, paz... é o caso das cores claras (verde limão, rosa, azul celeste, bege etc.). Usam-se geralmente para pintar paredes de escolas, casas de saúde e demais ambientes públicos. Já outras, ao simples contato visual, podem provocar irritação, melancolia... São exemplos: vermelho fogo, castanho escuro, preto. É certo que as respostas às sensações estimuladas pelas cores também variam conforme os reflexos do indivíduo. Colorimetria é a ciência que estuda o tom, a saturação e a intensidade, bem como a medida e a quantificação das cores. Denominamos “temperatura” a impressão de que determinada cor seja quente, fria ou morna. No sabor, cores quentes (vermelho, laranja, amarelo) estimulam o apetite. O contraste sucessivo traz a sensação de modificação das cores quando vistas em conjunto. Dimensão deixa um efeito de cor que aproxima ou distancia. Peso e tamanho provocam a idéia de que as cores escuras são menores e mais pesadas que as cores leves. As cores são divididas em primárias, secundárias, terciárias e neutras. No primeiro grupo temos o vermelho, amarelo e azul, com as quais combinamos as secundárias – mistura de duas primárias. O vermelho é uma cor quente que mostra vitalidade energia e coragem. O amarelo é suave e alegre e simboliza otimismo enquanto que o azul é uma cor que dá concentração e melhora a mente. As cores terciárias resultam da mistura de uma cor primária com uma ou duas secundárias. São todas as outras cores, como o marrom, que é a mistura de amarelo ou vermelho com preto. Com respeito às cores neutras, são usadas para complementar um tom desejado ou modificar sua intensidade. Existem polêmicas geradas devido a ilusões óticas a esse respeito. Podemos citar o branco, os tons cinza e marrons como sendo neutros. O branco é luz isento de cor e preto é ausência de cor enquanto que o tom cinza é a mistura do branco com o preto.

Desenho realista

Em recente oportunidade ficou nesta coluna, a definição de desenho como “registro visual das imagens que vemos ou imaginamos”. Podemos especificar mais, definindo desenho como “a interpretação que damos a qualquer realidade, visual, emocional, psicológica e intelectual através da representação gráfica”. Considerando que o desenho é a base de qualquer trabalho visual, o conhecimento e o domínio de seus elementos se torna indispensável para quem deseja praticar artes plásticas. Através do estudo de desenho, o aluno terá oportunidade de conhecer para depois dominar esses elementos. Como ponto de partida no aprendizado temos a composição. Antes de medir as proporções e verificar as formas de um objeto a ser desenhado, precisamos saber colocar esse desenho no espaço adequado. De acordo com o arte-educador paulista, Philip Hallawell, “compor é organizar os elementos do desenho: linhas, pontos, manchas, cores e os espaços vazios de maneira equilibrada no espaço disponível. É o mesmo que se faz quando se arranja flores num vaso; é o que faz o fotógrafo, quando enquadra o assunto da fotografia”. A representação realista num espaço de papel é apenas parte do universo do desenho. É usar pontos, traçados e espaços da linguagem gráfica para comunicar impressões da realidade. É o meio para se adquirir o domínio sobre os fundamentos do desenho levando também a conhecer os elementos essenciais. No exercício do desenho de observação, desenvolve-se o senso de proporção, espaço, volume e planos. A sensibilidade e a intuição serão aguçadas enquanto se passa a apreciar também a textura, cor, estrutura e composição. Todos estes elementos são essenciais para a interpretação da realidade e proporcionar ao artista a total liberdade de exercer sua criatividade como quiser. O modo de interpretar será sempre o resultado de uma opção. O desenho realista que sugere exercícios de observação, garante ao artista os meios para desenvolver sua criatividade. Há inúmeros exemplos de artistas tanto clássicos quanto modernos que dominavam o desenho de observação e foram criadores de uma arte inovadora e revolucionária. É importante ressaltar, que o domínio do desenho não depende de habilidade manual, nem de conhecimento de técnicas, nem tampouco de um olhar diferenciado. Depende, isto sim, de um pensamento diferente que ele vai adquirindo. Para poder ver de uma maneira adequada para desenhar, é necessário pensar de uma maneira adequada, diferente do utilizado no dia-a-dia. Por esse fator, o desenho é um instrumento educacional muito rico, com uma abrangência maior do que se imagina. O aprendiz de desenho acaba aplicando esses pensamentos diferenciados a outras atividades, pessoais e profissionais. Torna-se mais crítico à sua realidade, mais sensível e mais criativo de forma geral e acaba enriquecendo também suas relações familiares. O mais importante em todo esse processo de aprendizado artístico, é que ele enriquece e causa enorme prazer. Isso coloca a materialização do produto artístico em segundo plano, pelo menos no início. Qualquer pessoa pode aprender a desenhar assim como se aprende a ler e fazer contas. Não é fácil, como não é fácil aprender a ler e escrever, mas não depende de “dom”. Porém, ao utilizar o desenho para criar algo significativo como uma obra de arte, é necessário, além do domínio dos elementos do desenho, usar e expor sensibilidade, inteligência, perspicácia e expressividade.

A estrutura das cores

A estrutura das cores

Tudo o que está a nossa volta é visto e percebido por nós, seres humanos, com cores. É o colorido que embeleza e alegra a nossa vida. Com exceção de um pequeno grupo - os daltônicos, que captam algumas cores a menos - nós sabemos da existência de uma infinidade de cores que serão tanto ou mais diversificadas quantas forem as misturas e combinações que delas fizermos. Há uma pesquisa feita com 236 pessoas da Ásia, África e Europa sobre cores, onde se constatou que as mulheres possuíam mais capacidade de percepção das cores do que os homens. Isso devido a opsinas presentes no cromossomo X, pigmentos responsáveis pela absorção das cores. Segundo a pesquisa, elas teriam dois cromossomos X, ao passo que eles teriam um só.

A estrutura da cor é dividida em física e psicológica. A estrutura física se subdivide em matiz, que é a que difere uma cor da outra; luminosidade, componente que provoca alteração nas cores entre claro e escuro; e saturação, que produz várias nuances e define se a cor é natural ou pigmentada artificialmente.

A estrutura psicológica refere-se à sensação inconsciente que a cor traz para o ser humano. De acordo com a experiência de vida pessoal de cada um, algumas cores sugerem calma, tranqüilidade, paz... é o caso das cores claras (verde limão, rosa, azul celeste, bege etc.). Usam-se geralmente para pintar paredes de escolas, casas de saúde e demais ambientes públicos. Já outras, ao simples contato visual, podem provocar irritação, melancolia... São exemplos: vermelho fogo, castanho escuro, preto. É certo que as respostas às sensações estimuladas pelas cores também variam conforme os reflexos do indivíduo.

Colorimetria é a ciência que estuda o tom, a saturação e a intensidade, bem como a medida e a quantificação das cores. Denominamos “temperatura” a impressão de que determinada cor seja quente, fria ou morna. No sabor, cores quentes (vermelho, laranja, amarelo) estimulam o apetite. O contraste sucessivo traz a sensação de modificação das cores quando vistas em conjunto. Dimensão deixa um efeito de cor que aproxima ou distancia. Peso e tamanho provocam a idéia de que as cores escuras são menores e mais pesadas que as cores leves.

As cores são divididas em primárias, secundárias, terciárias e neutras. No primeiro grupo temos o vermelho, amarelo e azul, com as quais combinamos as secundárias – mistura de duas primárias. O vermelho é uma cor quente que mostra vitalidade energia e coragem. O amarelo é suave e alegre e simboliza otimismo enquanto que o azul é uma cor que dá concentração e melhora a mente.

As cores terciárias resultam da mistura de uma cor primária com uma ou duas secundárias. São todas as outras cores, como o marrom, que é a mistura de amarelo ou vermelho com preto. Com respeito às cores neutras, são usadas para complementar um tom desejado ou modificar sua intensidade. Existem polêmicas geradas devido a ilusões óticas a esse respeito. Podemos citar o branco, os tons cinza e marrons como sendo neutros. O branco é luz isento de cor e preto é ausência de cor enquanto que o tom cinza é a mistura do branco com o preto.

sábado, 3 de novembro de 2007

Verdade x Mentira

Verdade X Mentira

Há vinte séculos em circunstâncias incomuns, alguém fez a pergunta que até hoje continua repercutindo em nossos ouvidos: “O que é a verdade ?” O texto bíblico (Jo 18, 37-38) relata que, antes de ser crucificado, Jesus teve um diálogo tenso com Pôncio Pilatos, representante dos romanos na Judéia. A certa altura da discussão, Pilatos perguntou: “Então, tu és rei? Jesus respondeu: “Tu é que dizes que eu sou rei! Para isto vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade ouve a minha voz.” Pilatos então disse: O que é a verdade? Jesus não respondeu à última pergunta. Por quê? Talvez porque Pilatos não estivesse realmente interessado em conhecer a verdade. Do nascimento à morte, vivemos inumeráveis situações permeadas tanto de verdades quanto de mentiras. Elas chegam juntas como a planta e a erva daninha. Às vezes, a mentira é dita ou imposta por ignorância; outras vezes, é premeditada, produto da maldade. Pode estar presente nos pequenos gestos do cotidiano ou nas grandes decisões. Muita gente vive como carneiros, a seguir o rebanho. Os meios de comunicação, principalmente a televisão, são capazes de transformar as pessoas em carneiros dóceis. De repente, todo mundo passa a usar determinada marca de calçado ou de roupa tornando-se escravo da moda e do consumo, obedecendo a ordens e determinações que não procedem de pessoas interessadas em nossa realização e felicidade. A quem fala a verdade chamamos de sincero. Foram os romanos que inventaram essa palavra. Eles fabricavam certos vasos de uma cera especial que às vezes era tão pura e perfeita que seus vasos se tornavam transparentes, chegando a distinguir objetos colocados em seu interior. Para o vaso assim fino e límpido, dizia o romano vaidoso: Como é lindo! Parece até que não tem cera! É um vaso “sine cera”! (sem cera). “Sine cera” era, pois a qualidade de vaso perfeito, finíssimo, delicado, que deixava ver através de suas paredes. Da antiga cerâmica romana, até nossos dias o vocábulo sincero passou a figurar com um significado ainda mais elevado: sincero é ser franco, leal, verdadeiro; que não oculta; que não usa disfarce, malícia ou dissimulação. O sincero, à semelhança do vaso romano, deixa ver, através de suas palavras, os nobres sentimentos do seu coração. Quanto à mentira, essa anda solta e a encontramos em toda parte. Frustradora e destrutiva, destrói a base do relacionamento humano. Como pais e filhos vão se comunicar, se não confiarem uns nos outros? Como professores e alunos vão crescer juntos, se uns desconfiam dos outros? Como os habitantes de uma sociedade vão viver juntos, se é comum mentirem uns para os outros? Só teremos uma sociedade harmoniosa e feliz, quando houver o cultivo da verdade em todos os lares, quando todos protestarem contra promessas e propagandas mentirosas, quando, enfim, como diz Thiago de Mello, “o homem confiar em outro homem, como um menino confia em outro menino”.

domingo, 28 de outubro de 2007

Criatividade

Meu pai dizia: “...Criar para viver. Se não colhe não come”! Criatividade de que se trata aqui, tem esse e outros significados. Para alguns de nós, usar de criatividade pode ser realmente, questão de sobrevivência. Quando o caminho traçado se tornar insustentável, apelamos forçosamente, à criatividade ou definhamos. Ser criativo portanto, é estar preparado para a vida. Todos somos mais ou menos criativos. O grau de criatividade nos acompanha em progressão com o grau de independência que conquistamos. A vida é mestra na arte da criatividade. E como ensina! Aproveitando-se as oportunidades que surgem no dia-a-dia, pelo esforço pessoal ou pela educação formal ou informal, aprende-se a ser criativo, por um processo contínuo que ocorre ao longo de nossa vida. Criar é tornar-se consciente do que já existe, e interferir por considerar que, o que existe pode também ser diferente do que é. Estaremos sendo criativos quando admitimos que outros caminhos são possíveis. Quando mergulhando de cabeça na criatividade, transformamos a “mesmice” em algo novo, inexistente até esse momento. Criar depende das convicções internas da pessoa, de suas motivações e capacidades de usar a linguagem no nível mais expressivo que puder alcançar. A forma de como se desencadeia o processo criativo tem intrigado pesquisadores de todos os campos do conhecimento. Por um longo período acreditava-se que ser criativo era um dom, um talento, um presente divino. Só recentemente, com novas concepções ficou entendido que criar, fazer algo novo que nunca existiu, é uma possibilidade para todos e, cada um em particular, pode desenvolver-se criativamente. Quem pretende atirar-se neste vasto campo ainda pouco conhecido, para aprender a desenvolver a criatividade, deve antes conscientizar-se de que outros caminhos existem e são possíveis de serem construídos. Necessita despojar-se de atitudes de centralização das idéias para poder alargar o espaço e incorporar idéias e experiências novas; criar condições para a diversidade. Em outras palavras, ter o interior disponível para experimentar outras opções, diferentes das que estamos habituados. É um equívoco pensar que o ensino da arte não é necessário. Seria distorcer a função da arte na educação. Teorias recentes divulgadas a partir de 1950, intensificaram estudos sobre a criatividade. As pesquisas, em sua maior parte vêm da Psicologia e, distanciando-se dos enfoques sócio-históricos, voltam-se à arte-terapia e às possibilidades desta área contribuir para a qualidade de vida. Entende-se que o desenvolvimento do processo criativo na formação do indivíduo é importante pelo que contribui para sua humanização. Assim sendo, o ensino da arte é um dos campos privilegiados para desencadear estas funções.Um detalhe importante: quem se acomoda não cria. A criatividade só é possível em um cérebro em ação.

Obras de um grande artista

A arte ou expressão artística para ser capaz de produzir autênticos significados, deve poder partir do contexto da vivência do artista e de seus pontos de conhecimentos. Para isso se faz necessário que conheça a trajetória da arte na história e as obras criadas em diferentes épocas e culturas. Nos tempos das cavernas, a arte permitiu ao homem compreender a atribuir sentido ao mundo e à sua atividade sobre ele. O homem, um ser que seria facilmente vencido pelos elementos da natureza, produziu muitos artefatos que o possibilitaram dominar e transformar o meio natural. No mundo atual em constante transformação, a educação artística na escola não deve ser considerada um luxo, algo complementar ou meramente acessório em relação ao ensino das matérias essenciais, como línguas, ciências ou matemática. Ela é o desenvolvimento da criatividade e do senso estético é, e será cada vez mais, um requisito importante para se ingressar, permanecer e ter sucesso no novo mundo do trabalho. Não podemos ver e sentir a arte como algo distante, fora da nossa realidade. Temos inúmeras oportunidades de contato com ela todos os dias. Ouvimos música a toda hora. Assistimos teatros e filmes, conhecemos pinturas famosas, obras esculpidas (em museus ou através de revistas, jornais), etc. São todas manifestações artísticas que sugerem reações emocionais diferentes para cada indivíduo. Como as reações, imagens e idéias diferem, também as definições sobre obras de arte serão as mais diversas. Haverá quem prefira um estilo mais realista ou clássico, outro aprecia algo mais abstrato ou figurativo. São de muito fundamento as reflexões a seguir, da autoria do escritor Wilson João: De um toco de madeira sai um rosto de criatura humana. De uma pedra bruta, a figura de um animal. Saem figuras de todos os tipos. É um milagre porque a imagem já está dentro da madeira, dentro da pedra. Apenas um artista, com sua criatividade e entendimento faz aparecer todo tipo de imagens e de obras. Assim é em tudo na natureza e na vida humana. Cada um de nós é fruto da mão de um artista. Somos moldados. Cada filho é uma obra de arte. Ser pai e mãe é fazer de uma criatura informe e indefesa, e ao mesmo tempo com todas as possibilidades de criar-se, uma obra de arte. Uma obra de arte no corpo formando-o na beleza e na saúde. Uma obra de arte na mente, fazendo-o descobrir os segredos e as maravilhas da natureza. Uma obra de arte do mundo emocional e espiritual formando o filho no equilíbrio e fazendo-o descobrir que é filho de Deus e amado por Ele. Os pais devem ser os artistas de seus filhos. Os professores serão artistas ao se considerar que cada aluno é também, uma obra de arte. É lindo poder cavar da matéria-prima “aluno” uma obra de arte que seja uma pessoa ajustada na sociedade, no mundo do trabalho e no mundo da convivência familiar. Um ser, capaz de relações. O mestre-artista é quem faz dos alunos discípulos, e não adversários. Todo professor deve ser um artista que tira de uma matéria desordenada, um intelectual e um profissional ajustado e útil para a sociedade. Cada um é obra de si mesmo. É o mais difícil, mas é o caminho. Não se pode esperar sempre dos outros. “Que eles me façam, me criem. Chega o momento que eu tenho que me fazer, me criar, ser o artista de mim mesmo.” Ser artista e ao mesmo ser uma obra de arte é decorrência de nossa origem. Todos somos criados à imagem e semelhança do infinito artista, que tudo fez e continua fazendo sem nada repetir. Somos obras de suas mãos.

Musicalidade gaúcha

O gauchismo no Rio Grande do Sul se caracteriza por um conjunto rico e diversificado de elementos integrantes no seu folclore tradicionalista. Folclore, entendemos como ciência que aglutina as tradições de uma região, expressas em suas crenças, contos, provérbios, lendas, usos e costumes. É a cultura popular que se torna norma através da tradição. Assim o Folclore planta suas raízes no passado imemorial da sociedade, e se projeta com voz do presente e do futuro.

Gaúcho é o nome pelo qual é conhecido o homem do campo na região dos pampas da Argentina, Uruguai e do Rio Grande do Sul e particularmente, os nascidos neste estado brasileiro.

No início, o termo foi aplicado, em sentido pejorativo (como sinônimo de ladrão de gado e vadio), aos mestiços e índios, espanhóis e portugueses que naquela região, ainda selvagem, viviam de prear o gado que, fugindo dos primeiros povoamentos espanhóis, se espalhava e reproduzia livremente pelas pastagens naturais. Livre, sem patrão e sem lei, o gaúcho tornou-se hábil cavaleiro, manejador do laço e da boleadeira.

O reconhecimento de sua habilidade campeira e de sua bravura na guerra fez com que o termo "gaúcho" perdesse a conotação pejorativa. Paralelamente, surgiu uma literatura gauchesca, incorporando as lendas de sua tradição oral e as particularidades do seu dialeto, e exaltando sua coragem, apego a terra, seu amor e liberdade.

As artes que assumem o registro da história de um povo, cumpriram o seu papel também em relação ao nosso gaúcho. Prova disso são as inúmeras canções e poesias de renomados artistas que através delas revelam as façanhas do povo no passado e no presente e exaltam as belezas e o orgulho pela terra rio-grandense.

Pintura, desenho, teatro, cinema, escultura, música e danças, expressam sentimentos e retratam flagrantes da vida de nosso estado. No mês de setembro as músicas e danças regionalistas ganham um destaque especial no Rio Grande do Sul.

Existem vários ritmos que fazem parte da cultura gaúcha, mas a maioria deles são variações de danças de salão populares trazidas da Europa no século XIX. São ritmos, derivados da valsa, do xote da polca e da mazurca. Passaram a ser incorporados em nossa tradição. Foram adaptados como vaneira, vaneirão, chamamé, milonga, rancheira, xote, polonaise, chimarrita e outras.

O único ritmo que realmente é gaúcho é o bugio, criado pelo gaiteiro Wenceslau da Silva Gomes, conhecido como Neneca Gomes, em 1928, na então província de São Francisco de Assis. Inspirado no ronco dos bugios, macacos que habitam as matas do Rio Grande do Sul. O “Bugiu” – segundo livro de Adelar Bertussi e Valdir Teixeira - é um ritmo gaúcho de origem muito remota (fins do séc. XIX). Era uma dança de peões com chinas indígenas, sob qualquer som musical da época. No início do Séc. XX já era dançado ao som de gaitas de botão, mas ainda como dança não social. Mais tarde foi requintado com arranjos de gaitas apianadas e passou a ter letra própria enfocando a presença do macaco bugio no contexto.

Hoje o Bugiu é dança de salão e deu origem a grandes festivais nativistas como "Ronco do Bugiu" em São Francisco de Paula e "Querência do Bugiu" em São Francisco de Assis.

Capas e ilustrações para literatura

Rosas



Oasis


Limiar



Floração



Canções ao vento

domingo, 23 de setembro de 2007

Gaúcho - mescla de raças

Assim se fez o gaúcho: não como sendo um tipo étnico racial mas, pela caracterização de sua atividade, seu modo de viver, pelos usos, costumes, crenças, valores, sua cultura. No princípio os donos desta terra sul-rio-grandense eram os índios (Tapes, Charruas, Patos, Minuanos, entre outros) dos quais o gaúcho herdou o uso das boleadeiras, do laço, o governo do cavalo, o chimarrão, o pala, o chiripá, lendas e mitos. “Houve gaúchos autênticos que foram portugueses. Outros, espanhóis, outros, índios puros, guaranis ou m'baias. Alguns foram negros. No Rio Grande do Sul são conhecidos, ao longo da História, gaúchos de sangue alemão, de sangue italiano e até mesmo gaúchos judeus e gaúchos descendentes de árabes.” (Antonio Augusto Fagundes). Vieram os espanhóis. Primeiro os padres jesuítas que trouxeram o gado, depois os prisioneiros, desertores ou aventureiros que cruzaram o Rio Uruguai produzindo a primeira mestiçagem com os índios. Não tardaram os Bandeirantes, paulistas e curitibanos, brasileiros mestiços, organizados em bandeiras para explorar o território, prender índios reduzidos e formar vilas, hoje cidades, como Passo Fundo, Cruz Alta e Vacaria. Foram hábeis tropeiros. O tropeirismo teve papel fundamental no desenvolvimento e na integração do Estado e do Brasil. Com o tratado de Madrid (causa principal da Guerra Guaranítica que dizimou e dispersou os indígenas) chegaram os açorianos (portugueses Ilhéus). Expansivos, nos legaram as danças como a “chimarrita”, o “tatu”, o “anu” e a “tirana”. A festa do Divino Espírito Santo, a pesca artesanal, trovas, canções e provérbios são devidos aos açorianos. Os negros trazidos como escravos pelos portugueses ou por brasileiros descendentes de portugueses e índios (mestiços), chegaram a partir de 1725. Inicialmente trabalharam nas fazendas, que se formavam a partir da distribuição das sesmarias, e depois constituíram a mão de obra preferencial das charqueadas. Foram peões de estância, carreteiros, domadores, e valorosos soldados. Legaram ao gaúcho a feijoada, o mocotó e o quibebe. São deles várias palavras do linguajar gauchesco (cacimba, sanga, xerenga, etc). A alegria, a coragem, a generosidade, o gosto pela liberdade e o amor intransigente ao “pago”, são características marcantes do gaúcho. Estas virtudes podem ser atribuídas ao somatório das crenças, valores e ideais das diversas etnias citadas. Porém, devemos acrescentar a esta primeira formatação do gaúcho, outras etnias, especialmente as duas mais significativas, seja pela abrangência, seja pela significação numérica de imigrantes: os alemães e os italianos. Os imigrantes (colonos) europeus deram importante contribuição na formação do gaúcho, como o temos hoje. A ética do trabalho, o cultivo da terra, o gosto pela cantoria, a religiosidade, vários pratos da nossa culinária, algumas danças e, do alemão, até o serigote (tipo de encilha para os animais cavalares). Além dessas origens étnicas, em algumas regiões do Estado vamos encontrar poloneses, judeus, árabes, suecos e outros. Quanto mais variados os grupos étnicos em determinada região, mais rica e significativa será sua cultura gauchesca local (usos, costumes, hábitos, crenças, princípios e valores). Cada uma das etnias contribuiu para que hoje tivéssemos o gaúcho como resultado de uma mescla de raças. (Fonte: www.semanafarroupilha.com.br)

Arte – registro da história

A vida, em geral, e o mundo do trabalho, em particular, valoriza e recompensa aqueles que apreendem e incorporam – em sua maneira de ver, entender a agir – os padrões novos que – cada vez com maior velocidade – emergem da experiência humana. Isso é particularmente válido para uma época de transição no processo civilizatório, como a que presentemente, estamos vivendo. Foi através da arte que, pela primeira vez, o homem entendeu e representou o mundo em torno de si. Tal atitude não é alguma coisa, que ficou esquecida em algum lugar do nosso passado. Nós carregamos conosco essa capacidade de aprender a configuração do nosso mundo interior ou exterior e procuramos objetivá-la em algo dotado de sentido, sem ter, para isso, de recorrer à religião, à filosofia e à ciência. É nisto que consiste a experiência humana traduzida pela arte. Arte se define como uma criação do homem com valores estéticos que sintetizam as suas emoções, sua história, seus conhecimentos e sua cultura. O ser humano já deixava suas marcas nas pedras e cavernas desde a pré-história. Isso lhe permitiu compreender e atribuir sentido ao mundo e à sua atividade sobre ele. Somos animais lingüísticos e todas as formas de linguagem nos servem de meio de expressão oral, visual ou corporal. É a nossa capacidade de configurar a experiência passada e presente e discernir o futuro, desde os primórdios da humanidade. A ciência, a filosofia e a religião também exercem esse papel de preparar o ser humano para compreender e atuar sobre o mundo. Cada qual à sua maneira, essas formas de relacionamento do homem com o mundo natural e humano que o cerca, constituem o que há de especificamente humano em nossa natureza, que é a cultura. Nesse sentido, a arte engajada na cultura, tem sido a manifestação de sentimentos e retratos da vida fazendo desde o tempo das cavernas, o registro da história do mundo. A arte se apresenta de várias formas: plástica, música, escultura, cinema, teatro, dança, arquitetura, poesia, etc. Para se comunicar o ser humano (artista) precisa da arte e da técnica. Essa comunicação se dá através do que se vê (visual), do que se ouve (auditiva) ou do que se vê e se ouve ao mesmo tempo (audiovisual). Hoje, alguns tipos de arte permitem que o apreciador participe da obra, e até que interaja com ela, em alguns casos modificando-a. É assim que funciona a arte da nossa vida. Nesta obra, todos somos artistas. Aí reside a importância e preciosidade da arte: tomar nas mãos as possibilidades de modificar ou mudar os rumos da própria história. Tomar conta das próprias emoções e amadurece-las. Ter consciência dos sonhos e realiza-los através do trabalho. Cada ação feita com criatividade e com amor, é uma obra de arte.

Sobrevivência...

Desde a virada do milênio, a preocupação e a consciência sobre a questão do índio têm se tornado mais intensa, porém, muito pouco solucionada. Enquanto isso, corre vivo o “sangue guarani” nas lendas, na linguagem, na medicina de ervas, nas cuias e pacotes de mate que ganharam importância econômica em todo o Sul... Na criação de gado introduzida pelos jesuítas, base da economia gaúcha; nas canções missioneiras, cantadas em versos pela voz maravilhosa de nossos tradicionalistas... É a herança indígena, presente entre os representantes de todas as raças miscigenadas, que alguns trazem no sangue, outros na cultura. E os descendentes dos índios das reduções, que conseguiram manter intactas suas raízes, onde estão e como vivem? A partir de 1994, um grupo, vindo da Argentina e Paraguai, vive em acampamentos no município de São Miguel das Missões. É uma área do parque da Fonte Missioneira, uma bica d’água que havia sido usada pelos jesuítas para abastecimento, pertencente ao patrimônio nacional. “No início, houve uma certa resistência do governo para deixar os índios ficarem em São Miguel”, conta Luís Cláudio Silva, diretor da Tekohá, uma ONG preocupada com a preservação dos remanescentes das missões. Segundo ele, o governo temia que a memória histórica da cidade legitimasse os guaranis a começar uma luta pela retomada das terras locais. Em casas construídas com taquaras, cobertas com papelão, palha ou lonas pretas, cada uma abrigando mais de uma família, a aldeia se preocupa com as crianças que são numerosas. Apesar do cuidado com as tradições, a cultura ocidental mudou bastante a nova geração. O cacique Nicanor Benítez Karaí, que coordena a tribo, fala guarani, espanhol e português. Atende os visitantes, prontamente e revela um pouco da situação em que vive o grupo na aldeia. Conta que muitos, além do idioma guarani, falam espanhol, não português. A arte ainda está presente em todo o grupo guarani, que produz artesanato em madeira, cestos, e colares. È constante a dedicação à música e a dança coletiva. Nas terras doadas pelo governo local, plantam batata, milho e mandioca. De longe, parece um acampamento de sem-terras. De perto, aparecem os cestos trançados e as crianças de cabelo negro e comprido correndo de pé descalço pelo barro vermelho e sujo...Vamos ficar aqui. Está bom, temos terra para plantar, diz o cacique. Por quanto tempo, eles não sabem. Esses descendentes guaranis, assim como seus antepassados, também produzem esculturas. Não mais dos santos católicos, mas inspirados na fauna da região e nas ruínas das missões. Não fazem apenas como pura manifestação artística, mas por questão de sobrevivência. Do mato em volta do acampamento, os guaranis tiram a corticeira. A madeira macia é o sustento da tribo. Dela saem os bichinhos modelados a faca e fogo. Em minutos, suas mãos de hábeis artistas, transformam galhos em onças, corujas e outros pequenos animais que são vendidos aos turistas na frente das ruínas de São Miguel. O artesanato é uma das tradições da tribo, junto com a língua, o guarani, misturada com um espanhol fluente... Apesar de séculos de ataques contra sua cultura, os guaranis das missões conservaram suas tradições, língua, crenças e, na medida do possível, até o estilo de vida. É claro, tiveram que se adaptar e também foram adaptados.

Raízes do Gaúcho

Com a expulsão dos jesuítas no século 18, os índios Guarani que conseguiram se salvar das guerras, embrenharam-se nas matas, reincorporando aos grupos não cristianizados. Os descendentes dessa população podem ser encontrados ainda hoje nas regiões sul e sudeste do Brasil, no sudoeste do MS, na Argentina e Paraguai. Pertencem a três subgrupos (Mbya, Kaiowa e Nandeva) que mantém uma identidade lingüística bem determinada, o que lhes permite reconhecer seus iguais mesmo vivendo em aldeias separadas e distantes. Atualmente, existem reservas guarani administradas pela Funai, em várias partes do país. Para os guarani, o território tradicional não se limita as suas aldeias nem tem espaço geográfico definido. Por isso, eles costumam se movimentar bastante. As aldeias ou “tekoas” – lugar onde vivem segundo seus costumes e leis – devem conter recursos naturais preservados e permitir a privacidade da comunidade. Na área litorânea, onde crescem os projetos imobiliários e turísticos, existem muitos conflitos de ocupação, invasões e processos judiciais envolvendo guarani e não índios. No Mato Grosso do Sul, os conflitos ocorrem com a derrubada das matas de seus territórios para a implantação de projetos agropecuários e a expulsão de índios para espaços cada vez menores. Como resultado, surgem violência, preconceito, assassinato e o suicídio de índios, principalmente de jovens. No tempo das missões jesuíticas, muitos indígenas foram capturados no sul e levados como escravos pelos bandeirantes paulistas para a região sudeste. Casavam-se com brancos, dando o que hoje é chamado de povo caipira (palavra tupi que significa “tímido”, “envergonhado”). O caipira que ficou sendo sinônimo de “atrasado” começou a existir nos arredores de São Paulo. Por onde passaram, foram deixando filhos e hoje encontramos numeroso povo mestiço nos estados de S. Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás e sul do Paraná. Podemos reconhecer o caipira, por alguns sinais bem típicos: o gosto de ficar descalço ou com simples chinelas; comer ou conversar de cócoras; gostar de música sertaneja. Aos poucos ele está se tornando o bóia-fria, isto é, gente que executa tarefas temporárias nas fazendas e usinas. Quando a situação piora, ele muda para as periferias urbanas. Em dois estados sulistas – Santa Catarina e Rio Grande do Sul – o mestiço formou o povo gaúcho. Contrariamente ao que muitos pensam, o nome “gaúcho” não indica os descendentes de italianos ou alemães que vieram para o Brasil no século passado, mas os descendentes de espanhóis e portugueses que tiveram filhos com mulheres das tribos Charrua e Minuano e Guarani. Dessas uniões nasceu um povo mestiço criado nos campos entre os currais de gado. O autêntico gaúcho campesino surgiu aqui nas missões. Com a entrada do gado trazido pelos jesuítas os índios se tornaram hábeis ginetes que aprenderam toda lida campeira. É nessas circunstâncias que foi forjado o perfil do gaúcho que hoje conhecemos.

sábado, 8 de setembro de 2007

Gaúchos nativos - cultura e sobrevivência

No início de 1994, um grupo de guaranis foi enxotado de uma cidade gaúcha, pois os donos do lugar não queriam índios zanzando na região. Colocaram a carga indesejada em uma Kombi e a depositaram no município de são Miguel das Missões que, de acordo com a prefeitura descontente, dona da Kombi e do direito de ir e vir, lá sim era terra de índio. Recebidos pela população, os guaranis montaram uma aldeia, onde vivem até hoje. Nos finais de semana e dias de grande movimento, como nas festas de final de ano, famílias inteiras deixam silenciosamente suas casas de lona cobertas com palha – que mais se assemelham a barracos de um acampamento sem-terra – e caminham alguns quilômetros até atingir as ruínas da velha igreja. Não falam com estranhos, talvez por também se sentirem estrangeiros nessa terra. Chegando, estendem pelo chão onças, corujas, tamanduás, arcos e flechas, cruzes e outros artesanatos feitos de madeira e bambu, contas e outros penduricalhos. O parco português da maioria é suficiente apenas para dizer os preços aos turistas: a partir de R$ 4,00, dependendo do trabalho gasto na confecção da peça. Ao mesmo tempo em que os pais negociam, as crianças brincam no gramado do sítio arqueológico. Correm e jogam futebol, fazendo de traves dois restos de colunas com mais de 300 anos de idade... Outras crianças, ficam a espera de turistas no estacionamento, correndo em sua direção. “Troquinho, troquinho!” Esmolas nessa noite são mais difíceis de serem negadas. A concentração de visitantes vai aumentando: afinal de contas todos querem assistir a missa *(de natal) nas ruínas do povoado jesuíta de São Miguel Arcanjo, antiga capital dos Sete Povos das Missões, cidades guaranis que por conta dos padres da Companhia de Jesus, chegaram a juntar milhares de almas pagãs convertidas à fé católica. Quando a noite cai e a missa começa, já não há mais nenhum guarani nas ruínas. Apenas o refletor iluminando um altar improvisado, cercado pela multidão. Na fala do bispo, convidado da vizinha Santo Ângelo para a cerimônia, graças aos céus por 500 anos de cristianização e três séculos da ação da Companhia de Jesus. Os índios retornam à aldeia levando de volta suas réplicas de cruz jesuítica que, apesar de fazerem sucesso entre os turistas, não foram totalmente vendidas desta vez... O povo construtor daquela cidade, hoje em ruínas, que já foi senhor de todas as terras ao redor, sobrevive de réplicas de seu passado vendidas a turistas brancos. Uma fina ironia que, para ser compreendida melhor, necessita de alguns séculos de explicação... O trecho acima foi destacado na íntegra do site “www.reporterbrasil.org.br”, escrito por Leonardo Sakamoto com data de 1º/12/2000. O texto, retrato do dilema e precária situação atual do descendente guarani dos séculos 17 e 18, dispensa comentários... A consciência do homem branco que se apoderou impiedosamente das terras do índio precisa crescer e tornar-se um grito, tão forte quanto foi o de Sepé Tiaraju, cacique dos guaranis: “Esta Terra tem dono!” (segue, próxima edição).

Vestígios da história missioneira

Fazer Turismo nas Missões é descortinar as raízes da formação da América. São mais de dois mil anos da presença dos índios guarani e quatrocentos anos da entrada dos jesuítas que vieram da Europa para levar a fé cristã aos nativos destas terras. Mergulhar no Mundo Missioneiro é poder andar por três países: Brasil, Argentina e Paraguai, nas fronteiras do MERCOSUL, visitando entre outros, sete Patrimônios Culturais da Humanidade. São Miguel das Missões é o grande atrativo do roteiro; Patrimônio Histórico e Cultural Nacional desde 1938 e Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade desde 1983, único no sul do Brasil. Milhares de turistas internacionais e do país encantam-se ao ver as ruínas da mais completa igreja em estilo barroco missioneiro, de todos os remanescentes jesuítico-guarani. Sua arquitetura foi projetada pelo irmão jesuíta italiano Gean Batista Primolli. Aos lados da igreja estão os vestígios do colégio, oficinas, onde eram produzidos os instrumentos musicais e produtos necessários à vida da redução, cemitério, casa dos padres, casa dos índios, hospedaria e o cotiguaçú - um dos principais símbolos do que foi a perfeição daquela sociedade – pois ali ficavam as viúvas, órfãos e doentes que eram cuidados por todos. Nos fundos ficava a quinta. Era o local de cultivo de plantas silvestres e adaptação de plantas trazidas da Europa. Atualmente, o mesmo local está sendo retomado para o plantio de pomares. A água utilizada pela redução de São Miguel Arcanjo era trazida de sete fontes, uma delas, a Fonte Missioneira. Fica a mil metros das Ruínas podendo ser visitada pelos turistas. Para quem gosta de aventuras, há a Trilha dos Guarani, a Peregrinação dos Santos Missioneiros e o Caminho das Missões, onde em até sete dia, caminha-se 180 km nas antigas estradas dos jesuítas. Nas missões estão as raízes da formação do povo gaúcho, demonstradas no uso da erva-mate através do chimarrão e da carne de gado através do churrasco. Diversas propriedades rurais que trabalham com turismo, oportunizam a vivência desses costumes. Lides campeiras, cavalgadas e também histórias do mundo gaúcho contadas ao redor de um fogo de chão, são encantos que os visitantes poderão curtir quando vierem à região das Missões. Segundo texto de José Roberto de Oliveira, base de pesquisa para essa coluna, a viagem turística se completa no Brasil, visitando um conjunto de outros patrimônios nacionais e locais na Rota Missões e, internacionalmente, conhecendo o Circuito Internacional das Missões Jesuíticas integradas com Foz do Iguaçu.Ao finalizar, vale uma pergunta: e os índios, os descendentes dos nativos guarani, onde estão? O que fazem? Como vivem? São questões que merecem um novo texto considerando-se a amplitude e importância do assunto.

Missões: conhecemos nossa história?

No ano de 2005, o tema “Missões” foi de grande destaque e ganhou o prêmio principal no desfile carnavalesco do Rio de Janeiro com a Escola Beija-Flor. O Brasil inteiro ficou encantado com o espetáculo que teve repercussão mundial. Mas, quantos serão os brasileiros que realmente conhecem o que se passou nas Missões? Quantos gaúchos e até missioneiros há, que pensam tratar-se apenas de um mito ou, lenda? No entanto, existem vestígios materiais e humanos suficientes para contar a história. Historiadores e pesquisadores fazem a sua parte. Cinco séculos passaram desde a vinda dos primeiros colonizadores na América. Diversos espaços conheceram um longo, lento e gradual processo de mudança cultural influenciado fortemente pela arte sacra. Nas 30 reduções de índios Guarani que padres jesuítas fundaram e desenvolveram ao longo do rio Uruguai, entre os anos de 1609 a 1768, foram produzidas mais de quatro mil peças de escultura, das quais restam trezentas, dispersas em vários museus. A maioria das imagens era de santos, talhadas em madeira e pintadas. Representavam estilos variados. Algumas possuíam articulações e cavidades dorsais para serem usadas em espetáculos sacros e procissões. As reduções tiveram grande desenvolvimento econômico, social e tecnológico. À medida que a organização de padres e índios prosperava e se tornava mais independente, começavam os conflitos entre as monarquias ibéricas: Portugal de um lado, Espanha do outro, disputando entre si as terras colonizadas. A conseqüência dessa disputa foi um “arraso” para os povos indígenas. Quando a região foi colocada em pauta no Tratado de Madri, iniciou sua decadência. Pelo acordo, os índios deveriam abandonar as Missões e seguir para as áreas dominadas pela Espanha. Marcados pela violência dos bandeirantes paulistas, padres e Guarani rebelaram-se e se recusaram a aceitar os portugueses como novos senhores. Estourou então a “Guerra Guaranítica” liderada por Sepé Tiaraju para enfrentar as tropas portuguesas, juntamente com outros caciques Guarani. A repressão foi dura, pois naquele momento se uniram os exércitos portugueses e espanhóis. Durou três anos, de1753 a 1756. Sepé foi morto, juntamente com milhares de Guarani. Perdida a guerra, os indígenas e os padres abandonaram as aldeias passando com os sobreviventes para o lado paraguaio. Alguns que ficaram ainda resistiam. Doze anos mais tarde, vendo que a presença dos jesuítas dificultava o controle da região, o rei da Espanha os expulsou das províncias platinas, acabando com o trabalho de quase 160 anos em mais de 70 aldeias cristãs fundadas. Expulsos de suas terras, os Guarani espalharam-se na Argentina e Paraguai, até a guerra que quase os exterminou na segunda metade do século 19.As reduções foram uma experiência diferente dentro da época colonial: uma tentativa de cristianizar os indígenas, guardando alguns valores nativos, como a língua e certas formas de organização. Hoje, das reduções, só restam ruínas e a lembrança de uma experiência que quis ser diferente...

Missões: a conquista espiritual através da arte

A arte que se desenvolveu nas missões não tinha finalidade lucrativa nem estética. Estava a serviço do ensino da religião cristã e satisfazia as exigências pedagógicas da Companhia de Jesus: iniciar os índios nas artes manuais. Nos arquivos da história missioneira consta que a arte em todas suas linguagens foi o recurso usado como apoio na catequese e fazia parte do conjunto da organização das missões. Desde a infância, alguns índios aprendiam a tocar e a fabricar instrumentos musicais copiados de originais europeus. O estilo barroco influenciou a arquitetura, escultura, pintura, teatro e música. Os Guarani tornaram-se escultores, cantores, músicos, impressores, pedreiros, e ferreiros cujos trabalhos evidenciavam a presença de traços culturais indígenas. A arte missioneira sintetiza os conhecimentos artísticos europeus com a produção dos indígenas. Os Guarani tiveram como mestres, jesuítas de formação sólida nas ciências e nas artes. Desses destacaram-se o padre Antônio Sepp – na música, botânica e fundição de ferro; o padre José Brasanelli – na arquitetura e escultura e o padre João Batista Primoli – responsável pela igreja de São Miguel Arcanjo. Imprimiram livros, criaram esculturas, pinturas, relógios de sol, sinos. Ao entrar na missão, o primeiro sacramento do ritual católico era o batismo que além de representar a profissão de fé, principiava a identidade missioneira. Naquele momento o infiel passava a ser fiel e ingressava nos ditames da sociedade global espanhola. Os índios selvagens passariam então a viver, primeiro como seres humanos e logo mais, como cristãos. A própria condição de ser humano partia daquele ritual de transição, da vida tribal para a vida chamada “civilizada”. As obras artísticas eram os instrumentos usados nessa transição. Dentro desse quadro deduz-se então que a intenção do Estado, da Igreja e da Companhia de Jesus, foi, através do missionário, salvar os índios da “infidelidade”. A religiosidade do guarani foi qualificada de impostora e enganosa perante a “verdade” tida como absoluta do cristianismo em expansão.A Missão deveria facilitar a passagem do pensamento mágico-religioso envolto em crendices, superstições e atitudes demoníacas, para o racionalismo qualitativo católico como era a lógica do conceito cristão. O cristianismo estava amplamente representado pelas imagens de santos e anjos, esculpidas e veneradas pelos fiéis guaranis em toda missão.A arte nas missões tinha sua função, e continua hoje, embora com diversa finalidade, cumprindo com seu papel de expressar sentimentos e conquistar a transcendência, o espírito.

Arte barroca missioneira

A convite, ocuparei esse espaço para escrever sobre a influência da arte na educação. 
Trabalhando com Oficina de Artes na escola, experimento diariamente a abrangência da arte e o resultado positivo que o trabalho artístico provoca, fazendo com que o aluno busque mais interesse nas outras áreas, eleve sua auto-estima e se transforme num observador crítico. 
Ao desenvolver projeto, publicado pela escola, indagaram-me sobre o significado da arte denominada "barroca missioneira". Pela pesquisa, descobri que foi um estilo, surgido na Europa, por volta de 1660, prolongando-se até 1710. O termo pode significar superfície de pérola irregular, excesso de escultura e de ornamentação. É definido numa frase proposta pelo escritor Jackes Lacan: “O barroco é a regulação da alma pela escopia corporal”. Quer dizer: é aquilo que aparece, se faz visível através da encenação, da obra, da arte. É o que vai regular a alma, seu ser. A arte barroca, que surgiu em meio a um clima de austeridade e repressão na Europa, típica da Contra-Reforma, tinha por objetivo a propagação da fé católica no jogo entre o bem e o mal. Em dado momento histórico, mais precisamente, no século XVI, a partir de 1607, vieram os missionários jesuítas, padres da Cia. de Jesus, primeiros europeus a penetrar e se estabelecer no sul do Brasil, encarregados da Conquista Espiritual da América. Parte de seu projeto são os Trinta Povos, denominados Missões, da Província Jesuítica do Paraguai, que se localizava na Bacia do Rio da Prata e corresponde, atualmente à parte do território do Paraguai, Brasil e Argentina. A conquista espiritual foi feita essencialmente pela persuasão. Formas exuberantes, cheias, viçosas, coloridas e animadas são as características da arte barroca. Na concepção barroca, a aparência implica o ser e estabelece uma seqüência lógica: imitar os gestos – fazer os gestos – induzir o ser... Foi pela inebriante beleza do conjunto da arte retórica, plástica e musical trazida pelo europeu e mesclada com os retoques da primitividade do artífice indígena, reduzido nas missões, que surgiu a arte barroca missioneira, ou seja: um barroco “indianizado”. A representação do êxtase e da agonia em aparições de figuras divinas, que pela sublimidade de gestos e expressões, pudessem inspirar devoção, foi encontrada em obras reconhecidas como feitas pelos jesuítas ou indígenas copiadas de modelo europeu. Porém, à medida que o indígena se distanciava do modelo, ia moldando do seu jeito, feições plácidas, não conseguindo reproduzir o imaginário artístico da Contra-Reforma. Esculpia o que via de santidade, nada mais que os padres e sua condição humana de pregação com seus pesados hábitos e gestos rituais. Os corpos e vestes voluptuosas ficavam por conta dos missionários. Após o aprimoramento do traço guarani, este colocava sua própria impressão nas imagens esculpidas ou pintadas. Percebe-se isso, em uma imagem de Nossa Senhora que tem cabelos e traços fisionômicos próprios dos indígenas. Isso demonstra que os índios não eram apenas copiadores, como muitos pesquisadores pensam, mas eram verdadeiros artistas que viam na arte uma forma de expressar seus sentimentos. Assim se explica a beleza dos quadros, esculturas e a perfeição da melodia nos corais e orquestras. Segundo BELLOMO (1997, p. 42) “[...] em resumo: nas imagens missioneiras os aparentes exageros do barroco europeu foram, por assim dizer, corrigidos pela natureza severa e grave dos indígenas”.Foi assim que surgiu um novo ramo do estilo artístico europeu: a arte barroca missioneira. Fonte: http://www.Freud-lacan.com